Friday, January 29, 2010

Fazendo arte

Criança fazer arte. Faz arte de bagunça, mas também faz arte no sentido literal. Toda criança brinca com massinha, tinta, corte e colagem e essas coisas divertidas. Brinca só pelo prazer de brincar, sem ter um objetivo, sem se preocupar em ser criativo ou planejar no que vai dar.

Mas quando a gente vai crescendo, parece que fazer arte só porque é divertido não é mais suficiente. A liberdade de criança vai morrendo, e tudo passa a precisar de um objetivo maior. Aí a gente começa a se recriminar e pára de fazer arte, dos dois tipos. Eu que adorava, não tenho nem pillot em casa.

Semana passada fui com umas amigas assistir a palestra de uma ex aluna de Kellogg, que era uma super executiva de marketing em empresas como a Gap, e que ha três anos largou o mundo corporativo e começou a estudar sociologia, psicologia etc. Ela já escreveu um livro e hoje viaja pelos EUA falando sobre temas como “chosing me before we”, “dare to live you” e outros desses temas batidos de auto-ajuda.

Apesar de eu não ter achado a palestra lá essas coisas, ela mencionou uma técnica chamada “vision board”. Basicamente a pessoa usa figuras e palavras pra colocar no papel coisas que imagina pra si e pro seu futuro. Decidimos experimentar.

Na terça-feira as meninas vieram aqui pra casa, munidas de mil revistas, papel, tesoura, pillot, cola etc. pra gente voltar no tempo e fazer vision board, ou melhor, corte e colagem. No nosso mundo de Business Week e The Economist, foi difícil descolar umas Oprah Magazines, Travel and Leisure etc, mas demos um jeito. Só ver aquela bagunça, tudo espalhado no chão, já foi o máximo.

Começamos devagar, meio ressabiadas, quase como se estivessemos fazendo algo de errado. Mas logo a censura foi baixando e sem perceber já estávamos rasgando e recortando revistas sem dó nem piedade. Sem pensar no produto final ou em ter que fazer sentido. Era só recortar tudo que quizesse, o que QUIZESSE, assim como crianças. Tinha esquecido como era gostoso deixar a tesoura fluir sem regra.

E a gente ficou ali, foleando e rasgando revistas por quase duas horas. E assim como quando éramos pequenas, tudo fez sentido. Nossas figuras e palavras foram se agrupando em temas, e no final todas tínhamos lindas colagens com nossa visão pro ano.

Não sei se esse poster vai servir pra alguma coisa, provavelment não. Mas foi uma delícia voltar aos meus tempos de adolescente, e relembrar quando eu detonava a minha coleção de Capricho em busca de imagens e frases que tinham a ver comigo pra fazer colagens pra capa das minhas agendas.

Agora pelo menos tenho papel, tesoura, cola e pillot em casa. Quem sabe resolvo voltar no tempo com mais frequência!

Aqui vai uma foto da farra lá em casa e do meu vision board, ou melhor minha arte.



Thursday, January 21, 2010

Puxa vida

Fui despedida! Pela primeira vez na vida!

Calma, ainda tô no Google. Fui despedida do meu trabalho voluntário!

Em junho de 2009 eu comecei a fazer trabalho voluntário numa instituição chamada Recording for the Blind and Dislexic. A tarefa era ler e gravar o conteúdo de livros para os cegos e disléxicos poderem escutar.

Quando vi essa oportunidade achei o máximo. Era a combinação perfeita: ajudar a quem precisa, divertido, educativo e ainda por cima uma boa forma de aperfeiçoar meu inglês.

Então liguei pra lá e expliquei que eu tinha interesse em ajudar a causa, mas que eu era do Brasil e tinha um sotaque. Eles disseram que isso não era necessariamente um problema. Que eu tinha que fazer um treinamento e depois uma prova. Seu eu passasse tava dentro. Então lá fui eu. Fiz tudo como mandava o figurino e passei. Fiquei muito empolgada!

Ha seis meses que vou quase toda quinta-feira nessa casa em Palo Alto, cheia de cabines do estilo de emissoras de rádio,com equipamento pra gravação e aqueles mega headphones. Nesses meses já li sobre história Americana, Joana D’arc e a inquisição, técnicas de convencimento, livro infantil e por aí vai.

Hoje fui lá eu: amarradona e curiosa pra ver qual seria o tema do dia. Foi aí que caíu o balde de água-fria. O rapaz que trabalha lá, Ben, inclusive um ex-funcionário do Google, me desencantou com o seguinte comentário: Barbara, my boss has been listening to your recordings and he thinks sometimes is hard to understand what you say due to your pronunciation. Sorry to be the one to deliver this message... E pronto. Sem aviso, sinal vermelho nem nada, fui despedida do meu trabalho voluntário por conta da minha pronunciation. Oh palavra difícil de pronunciar. Puxa vida.

Oh well, agora é bola pra frente. Arrumar outra coisa pra fazer…

No meio tempo vou conversando com o meu telefone que é menos exigente que os cegos e disléxicos, e me entende

Wednesday, January 20, 2010

Vai entender!

Cada vez que eu tomo um café no trabalho é o seguinte: um copo descartável, um daqueles anéis de papelão pra colocar em volta do copo e não queimar a mão, uma tampa de plástico, dois saquinhos individuais de adoçante splenda e um palitinho de madeira pra mexer. Tudo descartável. Isso pra cada café.

Eu que não sou muito de café, peguei o hábito e tomo pelo menos um por dia. A média no Google imagino que seja pelo menos uns dois por pessoa. Provavelmente mais. Contando apenas o campus que eu trabalho, são 4.000 pessoas. Ou seja, 8.000 copos por dia. Vezes 20 dias úteis por mês: 160.000 copos. Vezes 12 meses no ano, 1.920.000 copos. Um milhão, novecentos e vinte mil copos por ano, só no campus do Google que eu trabalho. Sem contar os anéis de papelão, as tampas de plástico, os saquinhos de splenda e os palitinhos de madeira. E sem contar os outros campus do Google, as outras empresas, e é claro, os Starbucks e cia. Precisei fazer essa conta algumas vezes pra acreditar que o número era tão absurdo.

No Brasil assim como nos outros países em desenvolvimentos o mesmo número é próximo de zero: as xícaras são de louça, as colheres de aço e o adoçante de gotinha. Por que?

A explicação mais popular é que a mão de obra é mais barata no Brasil, então vale mais a pena ter alguém lavando a louça do que comprar os descartáveis. Eu, sinceramente, tenho lá minhas dúvidas.

Tudo bem que a mão de obra é cara por aqui. Mas os EUA, e principalmente a California, são os líderes na campanha pelo green e reciclável. Só nessa campanha gastam horrores. Se o problema fosse custo, era só cada um lavar a sua caneca. Aí não ía precisar contratar alguém só pra isso.

Eu acho mesmo que a explicação é a cultura. Por aqui tudo é rápido, fácil, prático e principalmente descartável. As pessoas estão tão acosutamadas que nem se tocam. O normal é usar e jogar no lixo, just like this. Ninguém nem percebe que poderia ser diferente. Tem também a história da pressa. Os americanos querem pegar o café e sair andando, enquantos nós Brasileiros dedicamos nem que sejam 5 minutinhos pra esse ritual.

Só que todos esse copos são feitos de árvores, energia e outras matérias primas. E depois são jogados no lixo, onde provavelmente vão demander mais energia e milhões de anos pra desaparecer. Se é que desaparecem ever.

Então eu fico pensando. É tanto dinheiro gasto com campanhas pra preservaro meio ambiente, reciclar , destruir os rejeitos etc., mas na verdade era muito mais fácil cortar o mal pela raíz e evitar o que gera essa quantidade louca de lixo pra início de conversa. Era só ter xícara de louça. Era só mudar os hábitos.

Mas agora pra dar o nó na cabeça de vez, vem a contradição. Se por um lado tem tanto desperdício, por outro esse povo é ótimo em repassar, vender ou doar seus bens. Nesse quesito nada vai pro lixo. Taí comprovado pelos montes de garage sale que eles fazem.

Todo final de semana, andando pelas ruas do meu bairro aqui em Sanfran, que não chega a ser um Leblon, mas é habitado só por classe A e talvez B, você vê um garage sale. As pessoas fazem uma limpa da casa e colocam a venda ali mesmo na calçada. São mesas e tapetes no chão expondo as mais bizarras quinquilharias, que variam de antiguidades a sapatos furados, de louças e móveis a relógios quebrados, o céu é o limite. E nego compra. Tanto que toda semana tem um garage sale. Se ninguém comprasse, ninguém faria.

E para aqueles que não tem ânimo de montar uma garage sale, basta deixar o que quer que seja na calçada que em poucos minutos desaparece. E olha que eu já testei com pratos, xícaras e até colchão, e sempre deu certo. É uma questão de minutos pro item indesejado encher os olhos do vizinho e puff, sumir. Nesse quesito não tem desperdício, qualquer balangandã tem freguês. Coisa que eu não necessariamente esperaria dos gringoletes descartáveis daqui. Mas é.

Fora os donativos. Agora com essa história do Haiti então nem se fala. NADA sobra ou fica empacado.

E pra finalizar, uma anedota pras minhas amigas das antigas: fiz uma limpa no meu armário pra doar pro Haiti. Adivinha que peça vai abrigar alguma senhora, de preferência bem alta, lá naqueles lados do caribe? Essa calça verde, que me foi doada em um dos nossos bazares (era da Cecília), que já viajou o mundo todo comigo, e depois de uns 8 anos vai pra quem tá mais precisado. Achei isso o máximo. Onde serão as próximas andanças dessa calça? Tomara que bem longe dos um milhão novecentos e vinte mil copos descartáveis.

Friday, January 15, 2010

Melhor não pensar. Vamos fazer.

Pra quem não sabe, um dos mais famosos pontos turístico de Sao Francisco, o Fisherman’s Wharf, abrigava uma tribo de leões marinhos que faziam a alegria dos gringos. Um pouco antes do ano novo eles fizeram suas resoluções pra 2010 e partiram. Sem mais nem menos abandonaram o que foi seu lar por anos. Todos de uma vez. Sem aviso prévio nem satisfação pros turistas que ficaram literalmente a ver navios. Dentre as muitas especulações pra explicar esse êxodo, a mais popular é que eles achavam que as terras californianas não eram mais tão seguras…

Quinta-feira passada eu estava numa reunião do trabalho com mais 5 pessoas. Nesse mundo moderno, estar numa reunião com outras pessoas não significa estar fisicamente com elas dentro da mesma sala. Todos se viam, todos se escutavam. Estávamos separados, mas juntos, conectados por video conferência através de uma câmera na frente de cada sala, projetor e telão. Eu tava sozinha na California reunida com Googlers em Nova Iorque e Dublin.

No meio da reunião o projetor começou a tremer. Era uma trovoada abafada, como se tivesse um trator tão pesado passando no corredor que o chão tremia. Como são-franciscana de primeira viagem que sou, fiquei alguns segundos sem saber o que tinha acontecido. Tava tremendo mesmo? Tinha que ser minha impressão. Ou então o vinho da noite anterior ainda fazendo efeito. Até que alguém em Nova Iorque fez o TREMIDO comentário: “was that an earthquake?”. E-A-R-T-H-Q-U-A-K-E? Commo assim? Eu não trabalho com earthquake!

Precisei que alguém lá em Nova Iorque me explicasse que aquela experiência totalmente desconhecida tinha sido um terremoto de magnitude 4.1. Enchente, assalto, calor de matar, barulho dos onibus, arrastão, isso tudo eu tiro de letra. Mas terremoto? Como assim?

Difícil explicar a sensação. Claustrofobia, um nervoso por estar entre aquelas quatro paredes e debaixo de nada menos que dois andares de concreto. Tem noção? Dois andares de concreto que sem avisar se transformam em casinha de papel balançando de um lado pro outro. Como uma maquete da feira de ciências sendo transportada em cima de folha de isopor.

Mais de 50.000 haitianos não tiveram a mesma sorte que eu. Eles estavam dentro dessas casinhas de papel que se renderam ao tremor de magnitude SETE e desabaram na terça-feira.

Os dois andares de concreto caíram sobre a cabeça dos haitianos. Deles, de suas famílias, amigos, negócios, escolas e hospitais. É claro que eles já não tinham a video-conferência pra se conectar com o mundo que parecia não enxergar a situação do país. E também não tinham a mobilidade dos leões marinhos pra partir quando achavam que suas terras, que enfretam tornados e extrema pobreza, já não eram mais seguras. Mas o mais devastador é que eles também não têm máquinas pra retirar os escombros que estão sobre as pessoas que ainda vivas após 48 h do terromoto gritam por ajuda. Eles não têm medicos ou remédies para tratar os sobreviventes que tiveram partes do seu corpo esmagadas. Eles não tem se quer caixão nem espaço no cemitério pra enterrar os corpos que restaram com a destruição, e que acabam no lixo. Só resta a luta incessante dos haitianos, que movidos pelo desespero e solidariedade, cavam o cinza com suas próprias mãos em busca de alguma pontinha de vida remanescente na poeira.

Um país que já era condenado pela pobreza, agora está destruído e passando pelo caos no mais puro sentido da palavra.

Agora eu fico aqui dentro da minha casinha de papel assistindo na CNN a destruição no Haiti sem saber o que fazer ou o que pensar. Acho melhor não pensar pra não realizar que o grau dessa barbaridade é consequência de anos de miséria e abandono no Haiti. E que em segundos esse terremoto pode ocorrer aqui na minha sala, ou em qualquer outro lugar do mundo, e que a nossa vida está sempre por um fio. O melhor é fazer, ajudar os Haitianos. O Lucas já começou implementando um programa que garante que a empresa em que ele trabalha duplique as doações que os funcionários fazem pro Haiti. Se voces quiserem ajudar também, aqui está o link da cruz vermelha.

Beijos.

Tuesday, January 12, 2010

Resolvi não resolver nada

Ano novo é essa febre de fazer resoluções. Durante vários anos eu fiz essas listinhas de coisas que eu queria realizar. Emagrecer, fazer exercício com frequência, começar um hobby, ler mais, arrumar nomorado, etc etc etc.

Porém, mais por falta de tempo do que qualquer outra coisa, nessa virada eu não fiz listinha. Não deu tempo mesmo. Os últimos 18 meses foram um turbilhão de acontecimentos : me formei no MBA em Chicago, fiz trabalho voluntário em Samoa, passei um mês de dona-de-casa em Dallas, me mudei pra São Francisco, montei apartamento, fiquei noiva, comecei emprego novo, casei, isso tudo só resumindo o grandes acontecimentos. Foi uma maratona física e emocional, que culminou com o casamento no final de novembro. Depois da merecida lua-de-mel no paraíso de Fernando de Noronha, estamos de volta à SF e minha vida tá voltando à rotina.

Foi então que me toquei que não tinha feito as tais resoluções de ano novo. Comecei a pensar nessas opções de sempre, o que eu queria fazer, conquistar, mas nada tava soando muito promissor... Deixei pra lá.

Aí fui à Yoga nesse final de semana. Tem um academia fofa perto da minha casa que me foi indicada pelo meu primo, a Laughing Lotus. Ela é toda colorida, o maior astral. Mas enfim, todo começo de aula rola uma falação, alguma história que a professora conta, que pros mais desconfiados deve soar tipo uma auto-ajuda, mas que eu amo. Sempre resigna comigo. Essa semana o tema foi a importância de estar inteiro em cada momento do nosso dia. Em prestar atenção naquilo que estamos fazendo ao invés de estar sempre planejando o que vem depois, o que está na listinha de "to do". E o prazer que vem com isso.

Bom, parecia que não tinha mais ninguém na sala e a professora estava dizendo aquelas palavras só pra mim. Caíu a ficha na hora: minha listinha de resoluções pra 2010 só pode ter um ítem: colocar o pé no freio e saborear o presente. Resolvi não resolver nada.

Parece óbvio e fácil, mas não é não. Ainda mais pra mim, que adoro planejar e detesto ficar na incerteza (Lucas que o diga). Nesse mundo celular-laptop-TV-Twitter-Facebook é quase impossível fazer uma coisa só de cada vez. Só tentando pra entender.

Quantas vezes eu já estive no meio do banho sem saber se já tinha me ensaboado, ou já deitei na cama sem saber se eu já tinha tomado minha vitamina naquela noite, ou já terminei um prato inteiro de comida sem ter prestado nenhuma atenção no sabor que ela tinha. Inúmeras. E é uma sensação horrível.

Então pra 2010 quero desligar o piloto automático e tomar as rédeas da minha vida.

Hoje dei o primeiro passo e consegui o que não fazia a muito tempo: jantei sozinha. Mesmo. Sem computador ou televisão por perto. Foi difícil ficar ali, só eu e o meu sanduba de pão árabe, queijo, peito de perú e tomatinho cereja. Ficar 100% jantando. Mas olha que tava uma delícia....

Monday, January 11, 2010

Seguindo os astros....

Já to morando nos EUA ha mais de três anos e é claro morro de saudades da terrinha. Mas o que mais sinto falta mesmo é da minha família, tanto a de sangue como a que escolhi pra compartilhar minha vida: os meus amigos queridos. Estou vivendo mil coisas por aqui, cada dia uma novidade. Coisas legais, descobertas, e também perrengues dos grandes. Mas é tão difícil compartilhar... Mesmo com skype, dial55 etc, eu não ligo pra contar que hoje eu vi uma figuraça na rua (que aliás acontece quase todo dia aqui em SF), ou que eu tive um stress no trabalho, ou essas coisas do dia a dia que por algum motivo valem um telefonema local, mas não um internacional...

Por outro lado, para minha surpresa, certa vez um astrólogo me disse que eu deveria me ligar a área de comunicaçao. Ele provavelmente estava se referindo à minha profissão, mas pelo menos por enquanto tô mais pra engenheira do que comunicóloga.

Então resolvi juntar minha vontade de conectar mais com quem está longe, o conselho dos astros e, é claro, a tecnologia do Google pra debutar na escrita, e iniciar esse Blog. Quem sabe eu descubro meu lado A...

Vou adorar que vocês voltem sempre aqui, respondam, façam comentários, e se comuniquem comigo também!! Quem sabe assim a gente mata um pouquinho as saudades.