Thursday, December 22, 2011

Doação

Antes de mais nada acho que devo uma explicação aos meu poucos mais fieis leitores. Nos últimos meses estive sumida por falta de tempo (trabalho, viagens) e também porque fiquei totalmente viciada e não conseguia largar os livros do Stieg Larson (Girl with the Dragon Tatoo etc). Pra quem ainda não leu e gosta de ficção, highly recommend.

Hoje quero escrever sobre doação. Eu moro nos EUA e sei de todos os defeitos e estereótipos dos americanos e desse pais. Porem apesar da cultura capitalista e individualista, uma coisa que admiro muito é o costume de filantropia.

Eu primeiro me dei conta disso quando estava aplicando pro MBA e percebi que uma parte importante do processo de seleção era relativo a experiência do candidato com trabalho voluntário. Nos EUA qualquer adolescente já doou tempo pra alguma causa. Eu tinha uma experiência aqui e outra ali que deu pra garantir a minha vaga no curso, mas nada comparado com o pessoal da minha turma, que tinha trabalho voluntario como algo tão importante como aprender inglês ou matemática.

Durante o MBA, mesmo com a carga infinita de estudos, dedicação a procura de um novo emprego e, é claro, a farra de estar de volta as aulas, as pessoas arrumavam tempo pra trabalhar por uma causa. Tinham grupos dedicados a alinhar alunos com ONGs e dias em que a escola inteira ia pintar um centro comunitário, ajudar crianças com dever de casa e assim por diante.

Depois de dois anos o bichinho da caridade me mordeu, e escolhi passar dois meses das minhas férias fazendo trabalho voluntário em Samoa. Eu  e mais três amigos trabalhamos num projeto pra uma empresa de micro-financas, instituição que empresta dinheiro pra pessoas muito pobres poderem começar seu próprio negócio. Foi uma experiência incrível onde tive a oportunidade de conhecer pessoas e costumes que eu jamais imaginei. Acho que recebi tanto quanto ou mais do que dei.

O Google tem um política de gift match. Ou seja, a empresa dobra o valor das doações de seus funcionários para instituições sociais. Tem também o Google Serve day, quando todos os funcionários da empresa tiram um dia pra fazer trabalho social. Esse ano eu fui trabalhar numa cozinha que prepara 1500 refeições por dia pra pessoas carentes. 

Todo ano o vice-presidente de engenharia lidera um programa pra levantar fundos pra um banco de alimentos. Foram arrecadados mais de $300 mil. Pra aumentar a farra, ele junta um grupo de funcionários no Costco (mega supermercado), que abre mais cedo só pro evento. Cada um ganha um quantia pra gastar em alimentos não perecíveis que vão pra instituição. A brincadeira é conseguir gastar o máximo possível dentro do tempo determinado. É muito inspirador ver aquele mercado gigante tomado por funcionários do Google correndo de um lado pro outro pra encher  os carrinhos com alimentos pra doação.

Mas o motivo pelo qual resolvi escrever sobre isso agora foram acontecimentos das últimas semanas.
A mãe de um menino do meu time no Google faleceu de câncer. O pessoal do trabalho queria prestar uma homenagem e ficamos sabendo que em menos de um dia os amigos da falecida criaram um fundo em homenagem a ela. O dinheiro arrecadado vai pra biblioteca que ela trabalhava. Ela amava livros enato ao invés de mandar flores, nada melhor do que ajudar a perpetuar sua missão de disseminar a leitura.

O outro evento foi o casamento da irmã americana do Lucas. Normalmente os noivos distribuem algum brinde para os convidados durante o casamento. Ao invés, eles decidiram colocar três vasilhas numa mesa. Cada uma representava uma organização sem fins lucrativos que tem significado especial pra eles. Os convidados recebiam uma estrelinha e colocavam em uma das vasilhas. Os noivos se comprometeram a fazer um donativo para as instituições de acordo com o numero de estrelinhas ao invés de distribuir brindes.

Aqui nos EUA essas coisas são corriqueiras, fazem parte da educação e dia a dia de todos. As vezes eu penso que quando tiver filho não sei se vou querer que eles sejam educados aqui, numa cultura tão diferente da minha. Mas pelo menos esse aspecto quero muito que eles aprendam!