Quando nós da terrinha deixamos a pátria amada pra morar em outro país, acontece uma coisas muito estranha: tudo que tem Brasil no meio fica lindo e maravilhoso. Banda desafinada cantando MPB ao ar livre na maior friaca? Programão! Guaraná Kwat? Delícia! Primo do tio do amigo do cunhado da sogra de um conhecido vindo pra Sao Francisco? Pede pra me ligar! E por aí vai. Com a televisão não poderia se diferente.
Quando eu morava no Brasil, assinava a NET e raramente assistia a TV Globo pois achava triste (com algumas excessões como Casseta e Planeta, né Alê??). Mas desde que me mudei pros EUA, tem essa vozinha lá no fundo me empregnando pra assinar a Globo internacional. Finalmente sucumbi.
Ainda estou indecisa se a decisão foi acertada.
TV é um bicho estranho. Entra dentro da nossa casa e empurra conteúdo (ou falta dele) pra cima de nós sem o menor rigor. A gente fica ali parado consumindo aquilo que a emissora acha que vai dar IBOPE, e por mais que a tente controlar nossa reação, aquela mistura de sons e imagens tem um efeito nos nosso humor.
Esse domingo a combinação TV, tempo livre e Globo internacional foi bombástica. Lucas e eu resolvemos tirar o dia pra ficar de preguiça, que nunca é completa sem uma boa dose de TV. Quando ligamos na Globo, nosso welcome foi o infame “ô loco, meu” de dar arrepios. Se eu morasse no Brasil, provavelmente teria parado por aí mesmo e mudado de canal no ato. Mas voltando à questão inexplicável da falta de exigência pra tudo verde e amarelo quando na terra do tio Sam, resolvemos dar uma chance pro ex-gordinho. Nosso querido Faustão estava anunciando as atrações do Domingão, que incluía entrevista com Maria Gadú, uma cantora nova que me hipnotizou desde o primeiro contato. Foi motivo mais que suficiente pra aturarmos mais de uma hora de Faustão e suas Faustetes na espera da tal entrevista.
Maria entrou e começou a conversar com Faustão. Ou melhor, ele conversava. Ela não conseguia falar. O homem vidrou nos dentes da menina,e toda vez que ela abria a boca, ele interrompia: “ô loco meu, você devia tá fazendo propaganda de creme dental”. E achava muuuito engraçado. Uma cantora super revelação, menina de apenas 23 anos que já tem duas músicas bombando nas novelas vai no programa, e o Faustao se limita a fazer piadinha sobre seu sorriso. Eu ali curiosa pra saber como ela chegou lá, sua história, sua personalidade, mas ele não dava trégua: só falava do creme dental. Nem pasta de dente era. Dá pra acreditar que esse é um dos maiores salários da Globo, e que o “domingão”está no ar desde 1989 e tem até página na Wikipedia?
Enfim, meu material pra esse blog estava só começando. Depois do Faustão veio o Fantástico, e com ele matérias hilárias de tão surreais. Foi um bloco inteiro cobrindo um caso gravíssimo no carnaval do Rio, duas meninas se beijando na rua. Fala sério: tá cheio de pivete assaltando os foliões, gente fazendo xixi nas calçadas, briga de marmanjo. Até gente jogando lixo na rua é mais grave que duas meninas se beijando. Não sei se fiquei mais indignada com a reportagem, ou pelo fato desse caso ter ido parar na delegacia e consumido a noite inteira dos policiais e das acusadas. As meninas foram absolvidas, é claro, porque afinal, de acordo com o delegado, beijar não é crime. Crime é o preconceito dessa gente que não tem mais o que fazer e fica dedurando gente que tá lá inofensiva curtindo o carnaval e tentado ser feliz. Esses sim não deveriam ser absolvidos.
Mas se a primeira reportagem foi meio revoltante, a segunda foi hilária. O tal do Detetive Virtual do Fantástico foi às ruas em busca de fantasmas. O local escolhido foi o Castelinho do Flamengo. O Projeto Neblina, uma espécie de versão tupiniquim dos Ghostbusters, foi o grupo colocado na função de achar os seres do além. Parece piada, mas não é. A reportagem mostrando os tupinibusters, munidos de seus tupinighostdetectors foi exibida por quase cinco minutos em rede nacional (e internacional) no horário nobre. E o que mais me choca é que se tá passando no Fantástico, é porque deve estar cheio de gente vibrando pra ver se os fantasmas, que normalmente são tão cauteloso pra aparecer que nem saem da nossa imaginação, vão buscar a fama e mostrar as caras, ou melhor as almas, em plena televisão.
E pra terminar com chave de ouro, veio o programa do Jô (que aqui repete episódios antigos aos domingos). E com ele, a entrevista com Inri Cristo, um gringo barbudo que anda por aí dezendo que é a reencarnação de Jesus. O problema não é tanto ele dizer, mas sim o povo acreditar. O cara é convincete, e muita gente resolve dedicar sua vida a servi-lo, como é o caso das Inriquetes, suas discípulas. A entrevista foi impagável de tão absurda, com destaque pros comentários debochados do Jô.
Valeu a pena ter assisitdo a tudo isso? Bem o mal me rendeu esse post. Mas cada vez mais fico boba com o poder da televisão e como ela invade nossas casas e mentes com conteúdo que a gente não escolhe nem pode filtrar. Como uma ditadura. E nos hipnotiza de tal forma que é difícil desgarrar.
Eu termino esse blog ainda na dúvida se fiz certo em sucumbir ao patriotismo e saudades de casa e assinar a Globo…. Por enquanto continuo Vivendo a Vida.
Abaixo vai um trechinho da entrevista do Jô com Inri Cristo, que inclui algumas cantorias impagáveis das Inriquetes. Se quiserem aprender mais sobre essa figura, o You Tube tá cheio de material.