Friday, January 15, 2010

Melhor não pensar. Vamos fazer.

Pra quem não sabe, um dos mais famosos pontos turístico de Sao Francisco, o Fisherman’s Wharf, abrigava uma tribo de leões marinhos que faziam a alegria dos gringos. Um pouco antes do ano novo eles fizeram suas resoluções pra 2010 e partiram. Sem mais nem menos abandonaram o que foi seu lar por anos. Todos de uma vez. Sem aviso prévio nem satisfação pros turistas que ficaram literalmente a ver navios. Dentre as muitas especulações pra explicar esse êxodo, a mais popular é que eles achavam que as terras californianas não eram mais tão seguras…

Quinta-feira passada eu estava numa reunião do trabalho com mais 5 pessoas. Nesse mundo moderno, estar numa reunião com outras pessoas não significa estar fisicamente com elas dentro da mesma sala. Todos se viam, todos se escutavam. Estávamos separados, mas juntos, conectados por video conferência através de uma câmera na frente de cada sala, projetor e telão. Eu tava sozinha na California reunida com Googlers em Nova Iorque e Dublin.

No meio da reunião o projetor começou a tremer. Era uma trovoada abafada, como se tivesse um trator tão pesado passando no corredor que o chão tremia. Como são-franciscana de primeira viagem que sou, fiquei alguns segundos sem saber o que tinha acontecido. Tava tremendo mesmo? Tinha que ser minha impressão. Ou então o vinho da noite anterior ainda fazendo efeito. Até que alguém em Nova Iorque fez o TREMIDO comentário: “was that an earthquake?”. E-A-R-T-H-Q-U-A-K-E? Commo assim? Eu não trabalho com earthquake!

Precisei que alguém lá em Nova Iorque me explicasse que aquela experiência totalmente desconhecida tinha sido um terremoto de magnitude 4.1. Enchente, assalto, calor de matar, barulho dos onibus, arrastão, isso tudo eu tiro de letra. Mas terremoto? Como assim?

Difícil explicar a sensação. Claustrofobia, um nervoso por estar entre aquelas quatro paredes e debaixo de nada menos que dois andares de concreto. Tem noção? Dois andares de concreto que sem avisar se transformam em casinha de papel balançando de um lado pro outro. Como uma maquete da feira de ciências sendo transportada em cima de folha de isopor.

Mais de 50.000 haitianos não tiveram a mesma sorte que eu. Eles estavam dentro dessas casinhas de papel que se renderam ao tremor de magnitude SETE e desabaram na terça-feira.

Os dois andares de concreto caíram sobre a cabeça dos haitianos. Deles, de suas famílias, amigos, negócios, escolas e hospitais. É claro que eles já não tinham a video-conferência pra se conectar com o mundo que parecia não enxergar a situação do país. E também não tinham a mobilidade dos leões marinhos pra partir quando achavam que suas terras, que enfretam tornados e extrema pobreza, já não eram mais seguras. Mas o mais devastador é que eles também não têm máquinas pra retirar os escombros que estão sobre as pessoas que ainda vivas após 48 h do terromoto gritam por ajuda. Eles não têm medicos ou remédies para tratar os sobreviventes que tiveram partes do seu corpo esmagadas. Eles não tem se quer caixão nem espaço no cemitério pra enterrar os corpos que restaram com a destruição, e que acabam no lixo. Só resta a luta incessante dos haitianos, que movidos pelo desespero e solidariedade, cavam o cinza com suas próprias mãos em busca de alguma pontinha de vida remanescente na poeira.

Um país que já era condenado pela pobreza, agora está destruído e passando pelo caos no mais puro sentido da palavra.

Agora eu fico aqui dentro da minha casinha de papel assistindo na CNN a destruição no Haiti sem saber o que fazer ou o que pensar. Acho melhor não pensar pra não realizar que o grau dessa barbaridade é consequência de anos de miséria e abandono no Haiti. E que em segundos esse terremoto pode ocorrer aqui na minha sala, ou em qualquer outro lugar do mundo, e que a nossa vida está sempre por um fio. O melhor é fazer, ajudar os Haitianos. O Lucas já começou implementando um programa que garante que a empresa em que ele trabalha duplique as doações que os funcionários fazem pro Haiti. Se voces quiserem ajudar também, aqui está o link da cruz vermelha.

Beijos.

5 comments:

  1. Terrivel a situacao do Haiti. Estamos fazendo nossa parte tb. Belo texto. Continue inspirada!
    Bjs

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  2. Barbucha, to adorando te acompanhar! beijosssssss

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  3. Que bom queridona!!! Continua aparecendo por aqui e deixando comentários!
    Agora coloquei esse sistema novo que eu posso responder os comentários, o maximo. To me sentindo muito tec:)
    beijos mil pra vocessss

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  4. Larga tudo e vai ser cronista.Outra opção seria criar um departamento no Google .
    Lembra quando te levava par dar uma volta no quarterão para reparar nas arvores,portarias,etc. que estavam nos cercando diariamente mas nunca prestavamos atenção?Tem haver c/ sua cronica.

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  5. Oi pai coruja! Obrigada pelo recado.
    Lembro sim, mas não teho colocado muito em prática.... Tô tentando ficar mais atenta!
    beijos

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