Wednesday, January 20, 2010

Vai entender!

Cada vez que eu tomo um café no trabalho é o seguinte: um copo descartável, um daqueles anéis de papelão pra colocar em volta do copo e não queimar a mão, uma tampa de plástico, dois saquinhos individuais de adoçante splenda e um palitinho de madeira pra mexer. Tudo descartável. Isso pra cada café.

Eu que não sou muito de café, peguei o hábito e tomo pelo menos um por dia. A média no Google imagino que seja pelo menos uns dois por pessoa. Provavelmente mais. Contando apenas o campus que eu trabalho, são 4.000 pessoas. Ou seja, 8.000 copos por dia. Vezes 20 dias úteis por mês: 160.000 copos. Vezes 12 meses no ano, 1.920.000 copos. Um milhão, novecentos e vinte mil copos por ano, só no campus do Google que eu trabalho. Sem contar os anéis de papelão, as tampas de plástico, os saquinhos de splenda e os palitinhos de madeira. E sem contar os outros campus do Google, as outras empresas, e é claro, os Starbucks e cia. Precisei fazer essa conta algumas vezes pra acreditar que o número era tão absurdo.

No Brasil assim como nos outros países em desenvolvimentos o mesmo número é próximo de zero: as xícaras são de louça, as colheres de aço e o adoçante de gotinha. Por que?

A explicação mais popular é que a mão de obra é mais barata no Brasil, então vale mais a pena ter alguém lavando a louça do que comprar os descartáveis. Eu, sinceramente, tenho lá minhas dúvidas.

Tudo bem que a mão de obra é cara por aqui. Mas os EUA, e principalmente a California, são os líderes na campanha pelo green e reciclável. Só nessa campanha gastam horrores. Se o problema fosse custo, era só cada um lavar a sua caneca. Aí não ía precisar contratar alguém só pra isso.

Eu acho mesmo que a explicação é a cultura. Por aqui tudo é rápido, fácil, prático e principalmente descartável. As pessoas estão tão acosutamadas que nem se tocam. O normal é usar e jogar no lixo, just like this. Ninguém nem percebe que poderia ser diferente. Tem também a história da pressa. Os americanos querem pegar o café e sair andando, enquantos nós Brasileiros dedicamos nem que sejam 5 minutinhos pra esse ritual.

Só que todos esse copos são feitos de árvores, energia e outras matérias primas. E depois são jogados no lixo, onde provavelmente vão demander mais energia e milhões de anos pra desaparecer. Se é que desaparecem ever.

Então eu fico pensando. É tanto dinheiro gasto com campanhas pra preservaro meio ambiente, reciclar , destruir os rejeitos etc., mas na verdade era muito mais fácil cortar o mal pela raíz e evitar o que gera essa quantidade louca de lixo pra início de conversa. Era só ter xícara de louça. Era só mudar os hábitos.

Mas agora pra dar o nó na cabeça de vez, vem a contradição. Se por um lado tem tanto desperdício, por outro esse povo é ótimo em repassar, vender ou doar seus bens. Nesse quesito nada vai pro lixo. Taí comprovado pelos montes de garage sale que eles fazem.

Todo final de semana, andando pelas ruas do meu bairro aqui em Sanfran, que não chega a ser um Leblon, mas é habitado só por classe A e talvez B, você vê um garage sale. As pessoas fazem uma limpa da casa e colocam a venda ali mesmo na calçada. São mesas e tapetes no chão expondo as mais bizarras quinquilharias, que variam de antiguidades a sapatos furados, de louças e móveis a relógios quebrados, o céu é o limite. E nego compra. Tanto que toda semana tem um garage sale. Se ninguém comprasse, ninguém faria.

E para aqueles que não tem ânimo de montar uma garage sale, basta deixar o que quer que seja na calçada que em poucos minutos desaparece. E olha que eu já testei com pratos, xícaras e até colchão, e sempre deu certo. É uma questão de minutos pro item indesejado encher os olhos do vizinho e puff, sumir. Nesse quesito não tem desperdício, qualquer balangandã tem freguês. Coisa que eu não necessariamente esperaria dos gringoletes descartáveis daqui. Mas é.

Fora os donativos. Agora com essa história do Haiti então nem se fala. NADA sobra ou fica empacado.

E pra finalizar, uma anedota pras minhas amigas das antigas: fiz uma limpa no meu armário pra doar pro Haiti. Adivinha que peça vai abrigar alguma senhora, de preferência bem alta, lá naqueles lados do caribe? Essa calça verde, que me foi doada em um dos nossos bazares (era da Cecília), que já viajou o mundo todo comigo, e depois de uns 8 anos vai pra quem tá mais precisado. Achei isso o máximo. Onde serão as próximas andanças dessa calça? Tomara que bem longe dos um milhão novecentos e vinte mil copos descartáveis.

2 comments:

  1. Exatamente! E eu ainda acho que eles bebem mais cafe aqui do que no Brasil, apesar de levarmos a fama... fora os pratos descartaveis e a tampa pra cobrir seu prato distribuidos na cafeteria todos os dias na hora do almoco, por causa da cultura da "pressa", das reunioes, ou pelo proprio habito de comer na mesa, em frente ao computador, sozinho, sem interagir com ninguem. Foi um dos maiores choques quando me mudei pra ca. I'm a social being!

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  2. aline, voce me entende!!! mas o pior é que até eu já tô entrando na onda. vivo almoçando na minha mesa, em frente ao computador. lembro que no Brasil isso era quase IMPOSSÍVEL!
    Bom, welcome to the US:)
    beijos mil

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